segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Para quê é que precisamos de Governo?

No passado domingo, dia 10 de Outubro, na localidade de S. Martinho Pequeno, após o lançamento da 1ª pedra para a construção de um polidesportivo, uma senhora virou-se para mim e perguntou: e agora, quando é que manda criar emprego? Nós estamos sem emprego. Respondi-lhe que o emprego é uma responsabilidade do Governo e não da Câmara Municipal. Inconformada ela retorquiu: a mim disseram-me que é a Câmara que deve criar emprego.
Desinformação e manipulação deste tipo circula pelos diversos bairros e localidades e há gente do PAICV a promovê-la. Aproveitam-se da vulnerabilidade das pessoas e “lançam confusão” sobre as competências do Governo e dos Municípios. Quando confrontados com problemas de desemprego, chutam a bola e responsabilizam os municípios; quando confrontados com problemas de bolsas de estudos, apoios ao pagamento de propinas, transferem a responsabilidade para os municípios.
Esta forma de actuar tem dois objectivos: primeiro retirar a pressão sobre o Governo para ver se em matérias de maior contestação e fraco desempenho, o Governo se safa (o desemprego é uma coisa má, então que fique como encargo dos municípios); segundo penalizar as Câmaras Municipais fazendo desviar as atenções das populações relativamente a matérias que como é sabido não constam das responsabilidades municipais e mesmo que as Câmaras quisessem responder não poderiam fazê-lo por falta de instrumentos de política e falta de recursos financeiros que não estão dimensionados nem para resolver as questões básicas do saneamento, quanto mais para o emprego.
Esta forma de actuar tem por base a velha tese de chupar a ignorância das pessoas até ao tutano numa postura perversa de quem tem como única referência ética o poder. E para lá se manter, tudo vale.
Disse à Senhora de S. Martinho Pequeno, pois muito bem, se o Governo não é responsável pelo emprego, então para quê é que precisamos de Governo? E acrescento, agora mais, se o Governo declina as suas responsabilidades perante os jovens em matéria de bolsas de estudos e em matéria de emprego, então para quê é que precisamos de Governo? Se o Governo não se responsabiliza pelas situações de milhares de famílias com habitações em perigo de derrocada, então para quê é que precisamos de Governo? Será que o Governo existe apenas para construir estradas, portos, aerportos e barragens?
Existe na realidade um problema muito sério com este Governo de José Maria Neves. Um Governo que em duas legislaturas traça como objectivo estratégico reduzir a taxa de desemprego para um dígito (menos de 10%), dito na comunicação social e escrito no programa do Governo, e termina com um score de 21%, mais do que o dobro, é obra! Quarenta mil desempregados é o resultado da meta fixada e entram também na conta 130 mil cabo-verdianos a viverem com menos de 135$00 por dia, o que é mesmo que dizer, na miséria autêntica. Não esqueçamos também que em relação à pobreza, o Governo prometeu metas: reduzir para metade. Vejam o que aconteceu!
Com toda a leveza e descontração, José Maria Neves coloca o desemprego e a pobreza no quadro dos um terço não conseguidos da grandiosa obra de transformação e criação da nação vencedora. É simplesmente incrível! O desemprego e a pobreza representam apenas um peso de 33% na auto-avaliação do Governo de JMN. É a parte do trabalho que ficou por fazer e por isso pede mais um mandato aos cabo-verdianos. Cabo Verde sofreu uma grande transformação, a única chatice é estar com desempregados a mais e pobres a mais! É este o raciocínio implícito.
Toda a máquina da propaganda governamental e do PAICV está direccionada para focalizar a atenção das pessoas em obras, criar expectativas que se sobreponham às dificuldades diárias relacionadas com o desemprego e a pobreza, endossar responsabilidades aos municípios, à oposição e à década de 90. O Governo, esse, quer seguir tranquilo, cantando e rindo sobre o mar de desemprego e de pobreza que se alastra pelo país.
A respostas às questões sobre para quê é que precisamos de Governo, é óbvia: para se responsabilizar perante os cabo-verdianos pelos objectivos e metas que traça, pelas políticas que desenvolve, pelas acções e omissões governativas, pelos resultados. E não há como fintar o problema central: em qualquer Governo sério, o emprego, o combate ao desemprego e a criação de oportunidades de futuro, particularmente para os jovens, é responsabilidade primeira. O que Cabo Verde precisa na realidade é de um outro Governo.