sábado, 24 de julho de 2010

Turismo como alavanca do crescimento económico

1. O Turismo é a maior indústria do mundo pelos fluxos e recursos que gera; permite uma contribuição importante no PIB e na geração de emprego em vários países desenvolvidos. No caso dos pequenos territórios e estados insulares, é uma vocação natural.

2. Em Cabo Verde, há necessidade imperiosa de aumentar a capacidade de exportação e de criar oportunidades de emprego. O turismo é uma forma de exportar cá dentro. É uma indústria rentável mas muito exigente; requer qualidade total. Para qualidade total, há que haver política global, integrada, focalizada em objectivos estratégicos; capacidade de execução de políticas públicas e de ajustamentos permanentes à conjuntura internacional.

Essa qualidade não pode ser medida centrada no nosso umbigo, mas tendo como referência a oferta de produtos e serviços de padrão internacional, harmonizando-os com os dos principais mercados emissores, nomeadamente a Europa. A nossa ambição deverá ser para aí orientada. Para isso, há que apostar em novas atitudes e comportamentos virados para “vender soluções” e não para “impor soluções” como se os nossos clientes estivessem disponíveis a comprar sem condições, sem exigências ou com sentimentos de doador.

No turismo lidamos com mercados externos, com a procura sofisticada, daí a necessidade de ajustar a oferta para altos padrões de qualidade não só ao nível dos serviços hoteleiros mas a nível da envolvente geral.

Estamos a atingir um patamar em que os constrangimentos ao nível da água, da energia, do saneamento, das acessibilidades, dos transportes, da segurança, da qualidade de vida urbana, irão dificultar seriamente objectivos mais ambiciosos de crescimento do fluxo turístico e pior do que isso, tenderão a influir cada vez mais negativamente na repetição de visitas dos turistas. Como em muitas outras actividades, quando se atinge um determinado patamar de crescimento quase natural, o difícil é dar saltos, incrementar de forma mais acelerada e sustentada. Esta é a minha percepção e inquietação , não sei se é também a vossa.

3. Das declarações de intenções à realidade, há um gap muito grande que precisa ser preenchido para transformar o potencial turístico do país em mais crescimento económico e emprego num quadro sustentável.

Isso exige uma boa articulação de políticas, incentivos e de investimentos para melhorar o ambiente geral; a qualificação da mão-de-obra orientada para as exigências do mercado turístico; a criação de ofertas culturais, de entretenimento e lazer; a criação de uma verdadeira cadeia produtiva do turismo capaz de integrar a economia local na oferta; a promoção externa consistente e consequente de CV como destino turístico.

Exige a assumpção pelo Estado do papel que lhe compete enquanto incentivador, promotor e líder do processo de desenvolvimento turístico. Há coisas que o sector privado não fará, por não ser da sua competência, não ser rentável ou não ter poderes nem instrumentos: a regulação, o investimento em bens e serviços básicos, a redução dos custos do contexto. Por si só a cadeia produtiva do turismo e o efeito multiplicador sobre a economia local não se desenvolverá sem o impulso e o estímulo das políticas públicas.

A única forma de ter sucesso é conceber e articular políticas públicas de forma concertada com o sector privado e liderar procurando o efeito global que é o crescimento sustentado através de estímulos e de um ambiente favorável ao investimento e à atracção de turistas e ser proactivo em políticas capazes de aumentar a capacidade da oferta da economia local ao turista: a produção agrícola, piscatória, a restauração, o lazer e o entretenimento, o artesanato.

Exige cidades e vilas competitivas no ambiente geral urbano e na qualidade de prestação de serviços. Esta é a grande reforma que está por fazer: colocar a dimensão territorial na base de definição da estratégia de crescimento económico e emprego e assumir a gestão descentralizada do país como factor de desenvolvimento. O turismo não se faz em Cabo Verde, faz-se ou pode-se fazer no Sal, na Boavista, em S. Vicente, na Praia e em qualquer das outras ilhas.

A primeira consequência da não focalização territorial é a concepção de estratégias com os pés fora do chão e sem orientação.

A segunda é o não aproveitamento das potencialidades de criação de riqueza dos territórios, que no caso do nosso país se podem desenvolver a partir do turismo e da cultura. Isso exige a concepção de políticas a partir da realidade física, geográfica e cultural de cada ilha, da sua diversidade para criar competitividade territorial a nível ambiental, social, económica e de posicionamento global de cada ilha face o exterior.

Exige estratégias regionais autónomas de desenvolvimento do turismo e instrumentos e medidas de política para que tal aconteça. Para isso há que criar um quadro de concertação estratégica e de alianças que não existe e que deve integrar o governo, os municípios e os operadores do sector.

Para desencravarmos as dificuldades de desenvolvimento harmoniso do país, temos que discutir a questão da regionalização de forma consequente e motivada para a valorização do potencial económico e para a promoção de competitividade de cada ilha. Não se trata apenas de um problema de assimetrias regionais, mas fundamentalmente de fazer cada ilha criar riqueza produzindo e distribuindo bens, oferecendo turismo e cultura com qualidade.

Discurso proferido no encerramento do III III Fórum Privado Público organizado pelo PROMITUR sob o lema “Turismo Residencial: Consolidar os Mercados Actuais e Conquistar Novos Mercados” – 23/07/10.

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